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Archive for agosto \28\America/Sao_Paulo 2012

Saudades, meu amigão!

Eu e Ulysses

Ulysses faria hoje 92 anos… ele se foi há 8 anos, 5 meses e 21 dias, mas ainda sinto demais sua falta em minha vida. Cada vez que algum problema me perturba, invoco a presença de meu pai, que sabia sempre me dar um bom conselho. Sempre que realizo algo muito bom, que me envaidece e do qual me orgulho, agradeço a ele pela formação que me deu, e a ele dedico meu sucesso. Meu pai é uma presença constante em meu caminho… hoje, que estou só, talvez saiba melhor a dimensão dessa perda irreparável, mas agora é tarde demais para compreendê-lo. Felizmente, quando ele ainda estava entre nós, já era meu melhor companheiro, e acredito tê-lo respeitado e admirado em vida, como agora o faço, depois de tantos anos.

Ele me ensinou muitas coisas, mas talvez seu maior legado tenham sido a dignidade e a humildade, valores supostamente desaparecidos de nossa realidade contemporânea. Ensinou-me a ser paciente, mesmo quando tudo parecia estar desabando ao nosso redor. E foi assim que consegui superar as adversidades que quase nos derrotaram tantas vezes em nosso caminho árduo! E depois, passada a tempestade, constatávamos que aquela gigantesca onda que ameaçava nos afogar, era apenas uma pequena marola na imensidão de nossas vidas. Não foi fácil, mas crescemos muito com tantas provações.

Hoje, passados esses anos, eu ainda o vejo em meus sonhos, ainda converso com ele em meus momentos de solidão, ainda recebo suas bênçãos em minhas orações, apartado de Deus. E sei que mais do que ter uma crença, uma religião, é preciso ter valores, princípios, retidão de caráter, mesmo que para isso seja necessário abdicar das vantagens que percebemos, ainda que por pleno merecimento. Aprendi com meu pai a me desfazer do supérfluo, sem sentir remorsos nem tristezas pela perda voluntária. E dessa maneira meu caminhar se tornou mais leve, ainda que não mais feliz, pois falta-me ele, meu pai querido.

É provável que as gerações mais recentes nem saibam a dimensão desse sentimento, pois o mundo se tornou árido, oportunista, imediatista, egoísta demais para todos nós. Mas continuo meu caminhar, certo de estar seguindo seus passos. Ulysses nunca deixou de manifestar suas opiniões, e muitos o consideravam ingênuo ou simplório por isso. No entanto, sua conduta reta e impecável era reflexo de sua sabedoria, qual um monge budista a quem nada ou ninguém poderia atingir, ferir ou humilhar. Diante das incompreensões, ele apenas sorria, fingindo não perceber a maldade proferida.

Creio que nenhum homem jamais amou e respeitou tanto sua mulher como meu pai à minha mãe. Mesmo quando sua saúde já se encontrava abalada demais para ele sorrir, levantava-se cedo, ia ao jardim, colhia uma flor e entregava a ela com ternura. Ocultava suas dores e sofrimento, carregando aquele fardo da doença que o dilacerava por dentro, mas era capaz, mesmo nos piores instantes, de brincar com um neto, contar uma piadinha sem graça mas que, em sua singeleza, parecia divertida e generosa.

Meu pai Ulysses, meu caro amigo de todos os momentos, tuas lembranças estarão sempre comigo…

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