Hoje ele teria quase 94 anos; porém, há dez anos nos deixou para sempre. Meu pai se foi antes do tempo, assim como se vão aqueles a quem amamos e respeitamos pela sua coerência, sabedoria, humildade e LUZ! Sim, ele foi o farol de meu caminhar, e continuará sendo. Sempre que me encontro em uma encruzilhada, inseguro, incerto, pergunto a meu pai qual a direção a seguir. Por algum mecanismo que desconheço, a resposta vem durante meus sonhos, como um sussurro, uma imagem desfocada, um sopro suave de ideias que me restituem a confiança e a certeza de ter encontrado o rumo. E sigo em frente, confiante de que o meu Mestre continuará me orientando e me ajudando a tomar as decisões corretas para o resto de meus dias.
Lembro-me da paciência com que ele nos preparou para a vida, deixando seu exemplo de uma conduta impecável, de Ética e de Honestidade acima de qualquer outra possibilidade. Assim como eu sigo seus passos, espero que, quando eu me for, as minhas filhas e meus netos tenham em mim um bom exemplo para clarear os seus caminhos. Que os exemplos de nossa sociedade não influenciem meus descendentes, pois a cada dia se torna mais difícil encontrar pessoas dignas e honestas. Assim como meu pai, eu não tenho apego a lugares ou a valores materiais. Para muitos, seria uma irresponsabilidade e uma temeridade, pois acreditam que acumular dinheiro e propriedades é a essência de sua ideologia consumista. Para mim, o caminhar tornou-se leve, pois nada carrego além de meus valores e de minhas convicções. E isso eu devo ao meu Mestre, Ulysses.
Minhas referências são as pessoas que amo, e meu pai terá sempre seu lugar de destaque em minha vida. Dele herdei o amor à Natureza, aos seres vivos, ao rio onde costumávamos remar e apreciar o por do sol, às caminhadas sem destino, que eram a fonte de novas descobertas e de novas reflexões. Seu carinho e compreensão fizeram de mim um ser mais tolerante, embora mais inflexível quando estou diante de injustiças ou situações inaceitáveis para minha consciência.
Meu pai querido, por mais que tenhamos sido grandes amigos e companheiros, é muito difícil não ter mais sua companhia para me confortar… sempre que faço algo de que me orgulho, penso em você e agradeço seus ensinamentos. Afinal, quem teve o privilégio de ser filho de um ser espiritual, cuja sabedoria está além dos livros sagrados, cujos exemplos são tantos e tão expressivos que não precisaria recorrer a nenhuma doutrina ou religião? Um Homem que nos encantou a todos pela sua simplicidade e bondade?
Pai querido, quisera acreditar que a vida não se encerra com a morte, que eu ainda terei o privilégio de te reencontrar, mas isso também seria trair os seus ensinamentos. O aqui e o agora são os únicos momentos conscientes e reais de nossa existência. E não precisei de um Mestre Zen para compreender essa verdade. Por mais que seja difícil saber, não tornaremos a nos encontrar, mas ainda guardo em mim a felicidade de tê-lo conhecido, de ter bebido na fonte de seus ensinamentos, de preservar em minha memória, enquanto eu existir, sua imagem, suas lembranças, suas palavras e seus ensinamentos. Não preciso de mais nada…
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